segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O HOMEM DO FUTURO

Em 2086 decidi que vou estar em uma versão bem mais completa sem imperfeições. O chip da modernidade estará cravado na cabeça e ai poderei ter na minha frente com visão HD todas as versões de futuro com opção de velocidade. O melhor dessa versão é que a saudade será algo que você poderá escolher. Fecham-se os olhos e passa a imaginar o passado, ou se acelera a visão e passa a ver tudo em uma versão reallyt show com opção de toque, cheiro e sabor? Será bem mais fácil. Assim selecionamos o que é mais agradável de ser recordado ou se de vez em quando, passa apenas para ver como era e torna a guardar para quando sentir vontade.

Não terei mais ansiedade. No lugar desse mal que me atormenta nos dias de hoje em querer saber como será o amanhã, eu poderei ver tudo em estatisticas tanto de afinidades, probabilidades, desempenho, peça de reposição e consumo. Tudo estará perfeitamente sincronizado e adequado as minhas necessidades. Fico imaginando no ganho que terei quando optar pelo item "Relacionamentos". Nossa! Vai ser show. Só em jantarzinhos à luz de velas, flores da estação, bilhetinhos na mesinha de centro, custo de chamadas telefônicas, eu terei economizado uma fortura. Só faria isso em últimos casos e com quem realmente valesse a pena.

No sexo então, nem se fala. Só iria caprichar mesmo de verdade com o desempenho acima da média, com quem merecesse ganhar meu cartão de visita virtual com chamada de vídeo. No mais, para os demais contatos físicos faria apenas um "Vem cá, neguinha que eu não tô podendo" com duas horas totalmente frees, sem muitas intenções para não alimentar as expectativas do dia seguinte.

No futuro vou fingir que sou insensível só para mostrar quem está no comando. Hoje em dia, isso me dá um trabalho, que você nem imagina.

Putz! E por falar em dia seguinte, será possível planejar tudo pelo computador instalado na porta da geladeira. De compras a compromissos, previsão do tempo e até do aumento da passagem do ônibus para a empregada não vir com aquela histórinha de que aumentou a passagem de novo e blá, blá, blá. Acho melhor pensar em trocá-la no futuro por uma versão mais barata e totalmente funcional, com assistência técnica remota instantânea e que não se incomoda de me ver andar pelado pela casa. Empregadas nos dias de hoje tiram toda a nossa liberdade.

E o que será liberdade? Será um drops que a gente irá tomar quando estiver no trabalho e que poderá ser acionado daquelas reuniõezinhas insuportáveis e intermináveis em que as pessoas se juntam para dizer alguma coisa que não podem dizer sozinhas. Assim você pode migrar para uma das praias do Ceará ou quem sabe Ibiza, com opções degustativas de caipirinha de saquê, tira-gosto de camarão frito ou lagosta ao limone. Só de pensar no futuro, já me deu uma baita fome aqui no presente.

E o presente será muito melhor do que o que a gente vê pelo Jornal Nacional e no Fantástico. Até lá teremos a opção voluntária de continuarmos alienados ou não. Vai depender muito do interesse em abrir a janela do mundo e ver o que acontece na real. No mais, vou preferir ter a vidraça reproduzindo as praias de Camboinhas em Niterói, Região dos Lagos e Cancun bem a minha frente.
E os namoros então? Até lá a Nokia já terá lançado o modelo TW5675 com versão 'Nifetinha With Call' para namoricos rápidos e descompromissados com teleconferência, sem pegação de pé, D.R's, almocinhos na casa da sogra e horas e horas de espera no salão de beleza. Basta apenas ligar o aparelhinho que já fará milagres e ainda por cima será possível fazer ligações interubanas a um custo super acessível. Com uma namoradinha dessas em forma de celular, a gente não liga nem para pizzaria quando sentir fome. Ela já saberá disso e providenciará tudo num único toque. O único problema será mesmo o chip. Isso ainda não terá sido resolvido em 2086 e continuarão chegando chamadas não realizadas, consumindo todos os seus créditos e cartões de crédito. A evolução nunca será o suficiente.

Enfim, eu terei me tornado amigo de Deus e meus tataranetos poderão conversar comigo sempre que tiverem dever de casa sobre a humanidade para fazer. Que professorinha ultrapassada! Como pode, depois de anos e anos de imperfeições ainda ter coragem de pedir um trabalho sobre humanidade para os meninos? Professorinha sem coração!

Liga não filhinhos. Basta ligar para o tataravô aqui que até lá terá se tornado amigo de Deus e Deus nesse mundo virtual continuará fazendo mais sucesso do que o Raul Gil é capaz de fazer depois de tantos anos de tecnologia avançada.

Em 2086 estarei em uma versão muito mais superior com itens de série personalizado em vesão Platinnum-Ultra-Slim-Super e que poderá ser perfeitamente consumível em qualquer lugar, sem que ninguém perceba. Terá o mesmo efeito de hoje, com a mesma fragância Chanel Egöist de sempre, com o prazer totalmente recarregável. Basta ligar na tomada que seu sorriso se acenderá de imediato satisfazendo totalmente a cliente. A única leve desvantagem é que a versão atual vem com a opção "Amante Para Todo momento, Amigo Para Qualquer Hora e Bom Humor Para Todo O Instante". Já a versão para o futuro só com a reserva de 76 anos.

Em 2086 a única preocupação que terei será em qual velocidade da banda larga que o mundo estará funcionando. Dependendo da velocidade poderei vir fazer umas visitinhas, umas comprinhas, dar altas risadas e dependendo com quem for, quem sabe tomar uns drinkzinhos e wwws à parte só a dois, a meia luz. Afinal de contas, ninguém será de ferro, muito menos eu, que a essa altura serei o homem do futuro com inúmeras vantagens virtuais, porque melhor do que qualquer tecnologia que possa haver futuramente, o mais lindo do ser humano ainda será o coração.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

No Melhor Dos Mundos

No melhor dos mundos, hoje eu acordei com uma vontade de abrir os braços. Parecia que havia engolido um sorvete de nuvem e ela se fazia livre dentro do meu peito. Sabe aquela sensação de bem-estar que faz com que tudo pareça possível e que todas as pessoas são felizes? Até parece que sentado diante do Renato Russo compreendia essa sensação que o fez transformar essa paz repentina em música. Quem me dera ao menos outras vezes.

No melhor dos mundos olhei para o lado na rua e vi um bem-te-vi construindo seu ninho num galho baixo da paineira sem dar a menor bola para o vai-e-vem das pessoas e do transito que se aglomerava a sua volta. Parecia que aquela visão me fazia compreender que Deus está acima de qualquer coisa e que Ele, de alguma forma, nos deixa seguros para entender que sempre estará por perto, não permitindo que nada aconteça.

Não é todo o dia que a gente acorda achando que o mundo pode ser um lugar conquistável e que tudo nessa vida só depende de nossa vontade, de trabalho e interesse em não desistir dos sonhos. Pode até parecer romantismo achar bonito o suor que escorre da testa do operário, mas é isso que faz a nossa vida de alguma forma, valer a pena.

Escolhi um caminho de árvores para seguir para o trabalho e cada vez que a paisagem passava por mim dentro do carro, mais eu tinha a certeza de que naquele dia, ao menos naquele dia não haveria nada impossível que não estivesse ao alcance das mãos.

Percebi que o bem maior que fazemos aos outros é estar antes de tudo, bem consigo mesmo. Isso parece nos envolver numa cortina de tolerância e torna a linguagem de todas as pessoas compreensiva.

No melhor dos mundos o que a gente precisa mesmo é ter mais sextas-feiras iluminadas para que possamos sonhar com sábados ensolarados sem ter hora pra acordar. Isso desperta o nosso espirito e nos faz ter vontade de prosseguir, embora o regresso involuntário para a realidade, seja duro e vejamos que o mundo, nem sempre é perfeito e que nem todas as pessoas são de fato felizes. E antes, que eu perceba que esteja dentro de um mundo imperfeito, quero só manter a certeza de que hoje acordei feito uma criança tomando sorvete de nuvem e antes que ela fizesse bem a mais alguém, essa nuvem fez bem a mim.

No melhor dos mundos, eu chorei sem ter motivos.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Saudades de Chuva


Hoje vi chover!

E a chuva que caía, molhava os canteiros com begônias próximas a caixa de coleta dos correios. Vi a criançada correndo feliz pela rua na maior gritaria com o gol que faziam entre latas vazias de pêssegos em calda. Um bom motivo para tirar sarro com os amigos e ensopar a roupa com a água que vinha das nuvens carregadinhas.

Vi gente apressada, correndo na frente dos carros tentando se esconder dos pingos inquietos que caíam insistentes e um outro tanto se espremendo nas marquises dos prédios, observando a chuva cair e a formarem ondas que desfilavam correntezas pelas valetas.

A mulherada preocupada em não desfazer o penteado, os homens preocupados em não molharem os sapatos e a criançada preocupada em não se preocupar muito com a previsão do tempo.
Vi guarda-chuvas passarem intermitentes de lá pra cá, que mais pareciam cataventos vistos de cima. Acho que nessa hora Deus até se diverte em lavar as nuvens e a torcê-las de propósito.
Parei para olhar a chuva e ver o quanto na dose certa, ela deixa tudo mais divertido, alegre e limpo. Um gosto de sereno umidecido sobre a pele.

Nessa hora, meu deu vontade de me juntar a molecada no meio da rua só pra ser livre novamente como quando se tem menos idade.

Quem sabe um dia, quando a chuva cair nos telhados de São Paulo, eu não saía à rua com vontade de ser livre, antes que a falta de chuva me cause saudades.

Hoje eu juro que vi chover!
Como lágrimas caídas do céu, pingos de liberdade caíam no meu guarda-chuva.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Acordando Idéias

Quero registrar aqui a dura tarefa de quem escreve um livro.

A gente acorda de madrugada cheio de idéias e também cheio de indisposição para pôr as idéias no papel, para não dizer, na máquina registradora e fica ali hesitando se levanta e escreve mais dois capítulo do livro ou vira para o lado e escreve mais umas duas horas de sono.
Não é muito simples, uma vez que inspiração não é uma coisa que a gente liga quando quer, feito o chuveiro quando precisa tomar banho. Banho e frio parecem coisas apavorantes.
Nem sempre deixar a água cair na sua cabeça é capaz de deixar as idéias mais claras, quanto mais com duas horas de sono.

Outro dia, quando a cidade parecia que afundava dentro de um iceberg e o frio fazia as sombracelhas se abraçarem, num frio congelante de 8ºC eu estava lá, sentando na frente do note na sala, colocando a mente para funcionar, expremendo pensamentos para colocar mais um capítulo para dentro do notebook, ainda que não fizessem tanto sentido.
Sentido mesmo não fazia, era eu estar ali acordado às 04h da manhã de bermuda e meias, num frio de desbotar a alma do corpo quando todo mundo estava escondido debaixo de um cásulo de cobertores.
Resultado. Duas páginas escritas até às 06:15 da manhã, um resto de sono para dormir e um atraso de duas horas até chegar ao trabalho. Eu olhava para as pessoas com olhar de ressaca e tudo que eu ouvia parecia um mantra budista. Depois do almoço, então. Difícil era se concentrar na Conferência que eu estava participando, sem deixar de sonhar com a cama e o par de travesseiros que eu havia abandonado pelas cadeiras frias da sala.

Conclusão: Já que resolvi plantar a árvores ao invés de criar filhos, cá tenho eu que acordar de madrugada para ninar idéias como um pai balançando o berço.

Dorme filhinho que um dia você acorda Livro!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Reflexões Para Dormir

Estou deitado, mas ainda nao estou dormindo.
É incrível os pensamentos que nos vêem a mente antes de dormir. Vem desde a preocupação se a gente fechou todas as janelas até a lista de compras do dia seguinte. Por incrível que pareça raramente é algo que te deixe relaxado.
A empregada não virá amanhã, assim não preciso trancar a porta do quarto e nem tão pouco levantar mais cedo, embora quando ela esteja, nem eu a percebo de tão sútil que ela é. Enfim, fico deitado imaginando as coisas que ainda tenho pra fazer e as que deixei de fazer em virtude de ter feito outras. Como a vida passa depressa. Já estamos no mês de Agosto e parece que já estamos atrasados. Daqui a pouco chega o final do ano e lá vem toda aquele sentimentalismo comercial e a necessidade de que a gente precisa trocar a Tv de plasma comprada no natal passado, por outra que aciona o microondas automaticamente, sem contar o corre-corre para dar tempo de tudo.
Você já notou como o tempo tem passado depressa ou é a gente que a cada dia está mais lotado de coisas para fazer? Acho que as duas coisas.
Bom, melhor mesmo é deixar para me ter esses pensamentos para depois, senão acabo levantando para adiantar algum trabalhinho extra e passear com o cachorro.
Ufa! Lembrei que não tenho cachorro, com isso me sobra mais tempo para dormir.
Pensando bem, só de pensar no que tenho para fazer já me deu sono.
Melhor fechar os olhos antes que contar as ovelhinhas sem torne uma obrigação.